domingo, 10 de abril de 2011

Construção de Chico Buarque


Olá galera, estou postando esses vídeos do Chico Buarque, pois a muito tempo essa música meche com a minha imaginação.
Eu a tenho como uma afinidade até mais do que as mais populares como Roda Viva, me fazendo remeter a varias imagens de algo robótico; como a unica opção de sobrevivência; pelo único cotidiano forçado; a rotina sem esperança de mudança; o conformismo de estar preso a esse mecanismo por causa de sua família; o pensamento da morte em frente a essa opressão, a repetição forçada e esganada das frases dando a sensação de esta fora da realidade após a primeira parte da musica; e outras coisas a mais que também me vem a cabeça. E por esse fato eu a procurei no you tube e encontrei essa interpretação, escrita ai em baixo, da música pela Rafaela Braga, que dá um grande complemento do meu pensamento e de dados históricos relevantes da época.




                                                                                                       
HUGO, Victor. 
Contrução, in 
BUARQUE, Chico (Compositor e Cantor)
São Paulo: 10/04/2011

Interpretação da música, pesquisada e concluída por Rafaela Braga:

O trecho: "Subiu a construção como se fosse máquina/Ergueu no patamar quatro paredes sólidas/Tijolo com tijolo num desenho num desenho mágico"; nos transmite essa idéia e nos permite pensar no sujeito de "Construção" como um operário. Os elementos "construção", "quatro paredes" e "tijolo" convergem para a formação discursiva do campo da construção civil.

Além disso, o momento histórico de produção da canção foi marcado por acidentes de trabalho, baixos salários e longas jornadas de trabalho na sociedade brasileira.

"Beijou sua mulher como se fosse a última"; "E cada filho seu como se fosse o pródigo". Ressaltamos que existe mais de um filho. Apontamento para uma possível "realidade" brasileira daquela época e da atual: "a do trabalhador com mulher e filhos para cuidar".

"Subiu a construção como se fosse máquina/Ergueu no patamar quatro paredes sólidas". Ao ser comparado à máquina, o sujeito recebe uma definição que nos permite pensar o operário da construção. Nesse sentido, ele deve realizar suas funções mecanicamente, sem pensar ou questionar. É isso que percebemos no sujeito de "Construção". Os passos devem ser seguidos metodicamente para que não se perca tempo nem dinheiro. Notamos aqui, a profunda disciplinarização existente para que o operário produza de maneira eficaz. Essa é uma das marcas da sociedade capitalista contemporânea.

O sujeito de "Construção", ao interagir com os demais, está inserido numa rede de poderes da qual não pode se desprender. Com relação aos membros da família, ele é o chefe. Com relação aos superiores no trabalho -- pressupostos pela função social ocupada -- ele é chefiado.

É a crítica a um poder que impede que o sujeito constitua-se como tal.

Aparentemente, "Construção" reproduz uma situação corriqueira de trabalho. Percebemos o tom crítico pela sanção dada ao sujeito e pela indiferença do sistema quanto à morte dele, como fica explícito no seguinte trecho: "Morreu na contramão atrapalhando o tráfego".

A morte do sujeito é a sanção negativa que atrapalha o trânsito, ou seja, que impede o funcionamento da engrenagem. É importante ressaltar que essa era a "realidade" de muitos brasileiros naquela época. Muitos cidadãos mantinham-se por meio do trabalho na construção civil. Se efetuarmos uma reflexão sócio-histórica do período em que "Construção" foi composta, entenderemos as possíveis influências das condições de produção.

O Brasil, passava por um processo de expansão industrial. O crescimento das indústrias e o incentivo dado às multinacionais traziam benefícios "reais" apenas às classes média e alta. A classe trabalhadora era explorada e submetida a longas jornadas de trabalho devido aos baixos salários. Trabalhava-se mais para compensar a baixa salarial.

Além disso, o número de acidentes de trabalho era muito elevado. Essa é outra marca contextual que nos permite realizar uma leitura crítica de "Construção". O sujeito da canção cai do andaime -- fator que o leva à morte. Na época, o Brasil foi considerado campeão mundial em acidentes de trabalho. Só no ano de 1974, no Estado de São Paulo, região mais industrializada do País, um quarto da força de trabalho registrada foi atingida, considerando-se apenas os números dos acidentes de trabalho que foram registrados (780 mil casos)

A canção tem o poder de despertar nos cidadãos, a consciência crítica e a sensação de revolta.

Ela serve para excluir os sujeitos do poder ou dar voz àqueles que são excluídos. Por outro, é a possibilidade de se propor uma mudança na organização do poder.

Entendemos, dessa forma, que a canção de Chico Buarque representa a voz daqueles que estão marginalizados pelo poder.

Na construção notamos uma inversão dos valores e papéis sociais. O sujeito excluído socialmente ganha voz no discurso de Chico.

Com isso, concluímos que a arte de Chico propõe a mudança de um sistema - o sistema ditatorial - por meio da criação de sujeitos que "refletem e refratam" a "realidade" social brasileira com o propósito de invertê-la.

BRAGA, Rafaela. 
Contrução, in 
BUARQUE, Chico (Compositor e Cantor)
YouTube: 10/10/2007

"Construção" foi o quinto disco do cantor carioca. Lançado em um dos períodos mais críticos do Regime Militar, o álbum representa uma mudança no trabalho do artista. Se antes Chico harmoniza Bossa Nova com composições veladamente críticas à ditadura brasileira, em "Construção" o cantor mostrou-se mais ousado - como mostra os versos iniciais de "Deus lhe Pague", faixa que abre o LP ("Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir"). Em "Samba de Orly", parceria com Toquinho e Vinicius de Moraes, Chico canta abertamente sobre o exílio - o que fez com que a canção fosse parcialmente censurada. A faixa-título é uma crítica sobre um homem que trabalhou arduamente até sua morte. Não faltaram também o lirismo característico do artista, como demostrado em "Olha Maria" e "Valsinha".

"Construção" foi eleito em uma lista da versão brasilieira da revista Rolling Stone como o terceiro melhor disco brasileiro de todos os tempos.

O álbum também se encontra no livro "1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer", feito por jornalistas e críticos de música internacionalmente reconhecidos.

A musica também é uma das poucas da lista de melhores discos da rolling stones que tem apenas um remix.

ZERATI, Edson. 
Contrução, in 
BUARQUE, Chico (Compositor e Cantor)
YouTube: 20/12/2010

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